domingo, 7 de abril de 2013

Como o cérebro aprende.



Por 
Norita M. Dastre
Retirado de lumiar-psicopedagogia.blogspot.com.br

O cérebro é um órgão complexo que começa a aprender, segundo os estudos da Neurociência Cognitiva (NC), desde o início da sua formação por meio da sua modificação com as experiências. Aprende através do exercício das habilidades, das necessidades, da motivação, da curiosidade, do interesse, da repetição e das fases inerentes ao desenvolvimento neuro-cognitivo[1].
O córtex cerebral, a complexa “massa cinzenta” que compõe 80% do cérebro humano, é o responsável pela nossa capacidade de recordar, pensar, refletir, comunicar, adaptar às novas situações e planejar o futuro.
Pantano,[2] afirma que ao nascer o bebê já enxerga, ouve, prefere sons agudos, geralmente gosta de formas arredondadas e reconhece a simetria, fatos comprovados cientificamente, por neurocientistas, que contradizem várias crenças sobre as inabilidades dos recém-nascidos.

De acordo com Muszkat [3] (2010), 50% do desenvolvimento cerebral se dá até o primeiro ano de vida. “Por isso, os problemas que ocorrem com a gestante podem ter uma repercussão muito grande na formação do cérebro do feto”. No primeiro ano de vida todas as atividades que estimulem a audição, fala, equilíbrio e controle motor são fundamentais para o processo de aprender durante toda a vida do indivíduo, portanto, pais, cuidadores e professores precisam ter o conhecimento sobre isso.
A fase de maior crescimento, de conexões neurais, de aprendizagem se dá na infância, quando atinge a sua formação completa por volta dos 7-8anos. Esta  fase é crucial, pois é quando as crianças iniciam o seu processo de aprendizagem escolar.
Muszkat afirma que  

 (…)com seis ou sete anos ocorre um fenômeno muito importante: a lateralização das funções cerebrais, ou seja, a especialização de um lado do cérebro. A lateralização mostra que houve o amadurecimento cerebral para lidar com símbolos que tenham a ver com a linguagem, como as letras. Sinal de maturidade cerebral.
Hoje sabemos que os estímulos adequados a cada faixa etária promovem maior número de conexões sinápticas, além de criar as conexões certas para a aprendizagem, mas é preciso saber como se dá a maturação neurológica para que se possa estimular adequadamente essas conexões e assim não causar prejuízos ao processo de aprendizagem.
Segundo Pantano e Ferreira (2010), uma estimulação em tempo inadequado pode causar tantos danos quanto a ausência de estimulação. Crianças que “pulam” estágios de desenvolvimento encontram dificuldades enormes para recuperar o que perderam.
Segundo a professora Silvia Colello, os exercícios mecânicos, as práticas insípidas, a falta de diálogo, as práticas discriminatórias que desconsideram a diversidade cultural na escola propiciam o fracasso escolar.
Para a professora, há uma lógica no não aprender que se apresenta nas dimensões cultural, social, pedagógica e política.
Dimensão cultural: Por que preciso aprender se na minha comunidade isso não é valorizado ou se a minha família não sabe ler nem escrever com ficarei perante ela? Cabe ao professor nessa dimensão se ajustar ao perfil cultural do seu aluno para compreendê-lo.
Dimensão social: buscar relações que promovam o bem estar dos alunos na escola.
Dimensão Pedagógica: o desafio está no ajustamento da metodologia ao processo cognitivo do aluno. Optar pelas práticas ativas que visam a construção do conhecimento.
Dimensão política: a valorização do saber, da escola e do professor. 
  Embora nos preocupemos muito com os alunos que apresentam dificuldades em  aprender há a necessidade de olharmos para aquele que aprendeu, mas que não valoriza esse aprendizado e em muitos casos não sabe aplicar o conhecimento na vida prática.
       Esta é uma questão para a reflexão pelos educadores de hoje, da era tecnológica, da sociedade do conhecimento, da criança multimídia, da lousa digital, das melhores relações entre o professor e os alunos, enfim para os educadores que fazem a diferença para os seus alunos.
DASTRE, N.M. Educação e Neurociência Cognitiva: a interação para uma educação inclusiva. Monografia. USP.São Paulo.2011 
[1] FOZ, A. Neurociência na Educação I. In Neurociência aplicada à aprendizagem. PANTANO, T. ; ZORZI, J.L. São José dos Campos: Pulso, 2009.p.171 
[2] PANTANO, T. Palestra “Neurociência Aplicada à Aprendizagem”. São Paulo. Congresso SABER 2011. 
[3] Mauro Muszkat é médico neurologista infantil e professor da Universidade Federal de São Paulo (UNIFESP). 

Aprender é modificar sinapses



por Suzana Herculano-Houzel
Retirado do site www.cerebromelhor.com.br
Você não lembra disso, mas um dia você não soube fazer algo tão simples quanto olhar um objeto e estender a mão para alcançá-lo por livre e espontânea vontade. Muita coisa mudou no seu cérebro desde então, e a capacidade que lhe permite hoje escrever seu nome, fazer coisas complicadas ao computador e dirigir seu carro tem nome: aprendizado.

Sem o aprendizado - ou seja, a capacidade do cérebro de mudar seus circuitos e modo de funcionar conforme suas próprias experiências são bem ou mal sucedidas, estaríamos fadados a viver com as funções com as quais nascemos, e nada mais.

O que exatamente acontece no cérebro durante o aprendizado? As sinapses, pontos de troca de informação entre neurônios, mudam. As que foram usadas com sucesso são fortalecidas, enquanto as que levaram a erro ou não serviram para nada são enfraquecidas, algumas a ponto de atrofiarem e desaparecerem. Além disso, novas sinapses também podem aparecer - e um estudo recente mostra que isso pode acontecer mais rapidamente do que se imaginava.

Em estudo publicado em novembro de 2009 na revista Nature, pesquisadores dos Estados Unidos testaram o aprendizado motor em camundongos e constataram que ele leva a uma rápida formação de novas sinapses no cérebro de camundongos adolescentes e até adultos. Tonghui Xu e colegas, da Universidade da Califórnia em Santa Cruz, estudaram camundongos de 1 mês de idade – considerados adolescentes – e outros de mais de 4 meses de idade, já adultos. Os animais eram colocados em gaiolas onde aprendiam a alcançar sementes através de uma fenda. Menos de uma hora depois de aprenderem a tarefa, já se encontrava um número significativo de novas conexões formadas entre neurônios do córtex motor do lado do cérebro responsável pelos movimentos aprendidos, mas não no córtex do outro lado, que não havia sido usado na tarefa. Esperava-se que a formação de sinapses novas levasse dias para acontecer. No entanto, o estudo de Xu e sua equipe mostra que o remodelamento estrutural das sinapses acontece quase imediatamente. Aprender, portanto, é mudar o cérebro – e na mesma hora.

Com o mesmo aprendizado, camundongos jovens ganharam mais conexões novas do que os adultos, sobretudo aqueles jovens que haviam aprendido melhor a tarefa. Mas pessoas de mais idade, não temam: os adultos no estudo também ganharam novas sinapses - apenas não tão rapidamente quanto os mais jovens.

Ao mesmo tempo em que o aprendizado leva à formação de novas sinapses, outras são perdidas: o resultado do aprendizado não é um aumento no número total de sinapses, mas uma mudança no conjunto de sinapses existentes. Em cerca de duas semanas, o número total de sinapses já está de volta aos níveis anteriores ao aprendizado – embora as sinapses agora sejam outras. Sinapses que já eram estáveis, que podem ser a base da memória motora duradoura, aparentemente não são perturbadas pelo aprendizado – o que ótimo: assim você não esquece como andar de bicicleta se começar a fazer aulas de dança! (SHH, 15/04/2010)

Fonte: Xu T, Yu X, Perlik AJ, Tobin WF, Zweig JA, Tennant K, Jones T, Zuo Y (2009) Rapid formation and selective stabilization of synapses for enduring motor memories, Nature 462, 915-9.