Os primeiros anos de
vida marcam, além da aquisição e utilização da linguagem, os avanços motores,
cognitivos e sociais. Esses primeiros anos são também primordialmente especiais
na formação da personalidade. Este desenvolvimento
está associado a fatores genético-biológicos, ambientais, socioeconômicos e
culturais.
Quando esses fatores
não são satisfatórios acabam por exercer influencias negativas no
desenvolvimento global da criança ocasionando riscos que podem culminar em distúrbios
do desenvolvimento, comprometendo de forma geral a saúde da criança nos
aspectos cognitivos, sociais, educacionais, lingüísticos e psicológicos.
Por esse motivo o
conhecimento dos fatores que influenciam negativamente e, portanto se tornam
fatores de riscos ao desenvolvimento infantil são praticamente obrigatórios aos
profissionais que atuam diretamente com a criança, além deste conhecimento é
necessário que esses profissionais reconheçam esses fatores a fim de
proporcionarem a criança um olhar preventivo e quando necessário a intervenção
precoce com o objetivo de minimizar os efeitos nocivos ao desenvolvimento,
portanto é imprescindível a atuação primaria de atenção a saúde da criança,
reconhecendo a importância da promoção dos fatores protetivos do
desenvolvimento, pois a máxima “é melhor prevenir do que remediar” se faz uma
verdade absoluta e universal no que diz respeito ao desenvolvimento infantil,
indo de encontro com a concepção do nosso Sistema de Saúde de priorizar a saúde
e não a doença.
A intervenção feita a
partir desta triagem de riscos pode oferecer um melhor rendimento se for
precocemente realizada, pois diversas pesquisas demonstram que prevenir
problemas durante a infância exerce efeitos benéficos por toda a vida do ser
humano, pois quanto mais tarde a intervenção, menos bem sucedida será.
Sob a ótica
fonoaudiológica, a identificação e tratamento precoces de crianças de riscos
para o desenvolvimento minimizam a vulnerabilidade a comorbidades como atrasos
de linguagem e distúrbios de aprendizagem e conseqüentemente possibilitando
melhor rendimento, este seria o trabalho do profissional do desenvolvimento
infantil que atua na atenção primaria.
Do ponto de vista
biológico, podemos entender como fatores preventivos e de promoção a realização
dos exames pré-natais, o aconselhamento pré-natal a assistência ao parto,
assistência neonatal, a triagem neonatal (teste do pezinho, da orelhinha),
todos esses fatores contribuem significativamente para a redução de condições
incapacitantes de base biológica ou pelo menos a detecção precoce.
Em relação aos fatores ambientais, os pais e familiares são os maiores responsáveis pelo bom desenvolvimento dos
seus filhos, a importância das primeiras relações na vida de um bebê são à base
do seu desenvolvimento, portanto a relação mãe - bebê e suas interações com a
figura materna são o mais forte vínculo e exercem grandes influencia no
desenvolvimento emocional e psíquico, sendo possível identificar indícios de
riscos a partir desta relação a fim de intervir, pois esta é a fase onde o
psiquismo e a subjetividade da criança estão em pleno desenvolvimento, e é o cuidado
da mãe com este bebê e a satisfação das suas necessidades, ou seja, alimentação,
afeto,
carinho, o olhar, o diálogo, que irão possibilitar que o bebê construa
sua noção de mundo e sua identidade, para
isso essa mãe precisa se doar não somente com seu corpo, mas com seu desejo, e
esse filho precisa ter um lugar na vida dela para que possa transmitir a ele os valores simbólicos e
culturais, que vão além de simples práticas maternais.
Do ponto de vista socioeconômico,
configura-se como um dos mais preocupantes para o desenvolvimento infantil, a
baixa renda familiar, que muitas vezes priva a criança da aquisição de bens e
serviços de saneamento básico, alimentação, moradia e outros fatores
imprescindíveis ao desenvolvimento e a saúde mental. As crianças que vivem em
países em desenvolvimento estão expostas a vários riscos como o de nascerem de
gestações desfavoráveis e ou incompletas e o de viverem em condições
socioeconômicas adversas. Tal cadeia de eventos negativos faz com que essas
crianças tenham maior chance de apresentar atrasos em seu potencial de
crescimento e desenvolvimento. Por esta razão, o impacto de fatores biológicos,
psicossociais e ambientais no desenvolvimento infantil tem sido objeto de
inúmeros estudos.
As características
biológicas tem sido há muito tempo as principais determinantes de atraso
intelectual na população infantil, isso se faz verdadeiro para crianças
gravemente comprometidas, ou seja, existem, como citado anteriormente outros
fatores que põem em risco ou promovem o desenvolvimento infantil. Sameroff e
Chandler (apud Halpern ET al, 2000) descrevem o “modelo transacional” de
desenvolvimento, que relacionam entre si os efeitos da família, do ambiente e
da sociedade sobre o desenvolvimento humano, segundo este modelo, problemas biológicos
podem ser modificados por fatores ambientais, e determinadas situações de
vulnerabilidade podem ter etiologia relacionadas com fatores sociais do meio
ambiente.
Por esse motivo, os profissionais que lidam com a primeira infância, devem estar atentos a todos os fatores que podem favorecer ou dsefavorecer o desenvolvimento infantil, a fim de prevenir e intervir precocemente para minimizar possíveis comprometimentos. uma intervenção terapêutica precoce juntamente com os cuidados familiares, o afeto e o acolhimento, podem transformar a realidade de uma criança.
Resenha de
Michelle Fernandes
HALPERN, Ricardo;
Giugliani, Elsa, R, J; VICTORA, Cesar G; BARROS, Fernando C; HORTA, Bernardo L.
Fatores de risco para suspeita de atraso no desenvolvimento psicomotor aos 12
meses de vida. Artigo original, Jornal de Pediatria, 2000.
MAIA, Juliani M D;
WILLIAMS, Lucia C A. Fatores de risco e fatores de proteção ao desenvolvimento
infantil: uma revisão de área. Temas Psicol. V 13 n.2 Ribeirão Preto, dez.
2005.
OLIVEIRA, Luciele D;
FLORES, Mariana R; SOUZA, Ana Paula R. Fatores de risco psíquico ao
desenvolvimento infantil: implicações para fonoaudiologia. Revista CEFAC, São
Paulo, 2011.